quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

OS VIDEOJOGOS NA EDUCAÇÃO

   

RESUMO
O seguinte artigo pretende clarificar e desmitificar o tema das novas tecnologias nomeadamente os videojogos na Educação e no Ensino. O assunto apesar de muitas vezes controverso, requer um entendimento apurado das vantagens das TIC e dos videojogos na aprendizagem das crianças. Os videojogos, segundo diversos estudos já realizados, têm-se mostrado ser um enorme aliado na aprendizagem das crianças e jovens tornando-se crucial para o novo mundo tecnológico, pois estes “contribuem para estimular o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças” e jovens e que “contribuem efetivamente para o desenvolvimento psicológico” (Piaget,1962; Erickson, 1963; Vigotsky, 1977). Mas também requerem alguma monotorização por parte dos educadores, pois as ofertas do mercado são atrativas e imensas que podem revelar-se muito dececionantes quando explorados. Importa compreender as vantagens dos videojogos no desenvolvimento, mas também saber fazer escolhas adequadas a cada situação e idades, bem como saber como, onde e quando integrá-las e o principal papel de cada participante e interveniente deve desempenhar.

Palavras-Chave: TIC, Videojogos; Desenvolvimento; Aprendizagem



ABSTRACT
The following article aims to clarify and demystify the theme of recent technologies, namely video games in Education and Teaching. The subject, though often controversial, requires an accurate understanding of the advantages of ICT and video games in children's learning. According to several studies, videogames have proved to be a great ally in the learning of children and young people, becoming crucial to the new technological world, since they "contribute to stimulate children's cognitive, social and emotional development" and young people and who "effectively contribute to psychological development" (Piaget, 1962, Erickson, 1963 and Vygotsky, 1977). But they also require some monitoring by educators because the market offers are attractive and immense that can prove to be very disappointing when exploited. It is important to understand the advantages of video games in development, but also to know how to make appropriate choices in each situation and age, as well as to know how, where and when to integrate them, and the key role of each participant and actor must play.
Key words: ICT, Video Games; Development; Learning



1.    INTRODUÇÃO
Segundo Amarante, 2003; Naeyc,1996 e Ramos et al. 2001, é difícil ignorar o contributo das novas tecnologias e dos novos media, no enriquecimento em contexto de aprendizagem, mesmo com tanta controvérsia que rodeiam este assunto. É importante explorar o potencial das TIC na criação de ambientes de aprendizagem mais enriquecedores e perceber os motivos e os factores de integração das novas tecnologias em diversos domínios.  Os estudos demonstram e comprovam que as novas tecnologias e os videojogos têm um enorme contributo no desenvolvimento das crianças e dos jovens, nomeadamente na linguagem e literacia, bem como nas competências verbais, na escrita, no pensamento matemático, no conhecimento do mundo e na educação para as diversidades. Melhorar a qualidade de ensino é um objectivo desejável e ambicioso e para tal, é necessário saber tirar partido das novas tecnologias e “coloca-las ao serviço dos projetos educativos renovados em que para além do que se aprende, se aprende a aprender” (Amante, 2007).
2.    As TIC na aprendizagem
O mundo evoluiu e a sociedade também mudou. Ocorreu profundas transformações. Assistimos nas últimas décadas a uma enorme evolução em várias áreas nomeadamente nas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação), no qual o mundo se foi desenvolvendo e adaptando ás mesmas. Houve uma profunda e irreversível mudança nas nossas actividades, relações sociais e no próprio conceito de literacia (Castell, 2002). Muitos defendem as mais valias destas novas tecnologias e das ferramentas a ela associadas, mas outros ainda persistem a um ceticismo no qual defendem que a sociedade é vitima e dependente das mesmas levando a um consumo desenfreado e sem rumo. Mas é certo que já não conseguimos viver sem as novas tecnologias que muito os têm facilitado a vários níveis, mas é importante saber como utilizá-las e tirar o melhor partido das mesmas.  Na educação estas têm-se mostrado de extrema importância, quer para crianças da idade pré-escolar que para crianças maiores já que exercem uma grande atração. Desta forma e baseando-nos em algumas investigações e análises feitas em estudos de casos, é importante fundamentar e justificar a integração das TIC no conceito escolar e de que modo este fascínio que as crianças sentem pelas novas tecnologias pode ser aproveitado para a promoção da aprendizagem e perceber como as crianças aprendem com elas.
3.    Principais contributos no desenvolvimento defendidos sobre as TIC
As investigações fundamentam e justificam o uso das TIC em contexto escolar e pré-escolar pois, enriquecem a aprendizagem das crianças nomeadamente no desenvolvimento da linguagem e da literacia e a nível das competências verbais, as tecnologias não inibem o desenvolvimento da linguagem, pelo contrário, tanto os computadores como os jogos encorajam a produção de discursos mais complexos e mais fluentes (Davidson e Wright, 1991). As crianças quando usam os computadores e os videojogos são estimuladas a usar a linguagem e principalmente quando usam programas abertos que encorajam a exploração e a fantasia nos quais as crianças fazem relatos. Ainda no que se refere á linguagem, as crianças contam histórias mais elaboradas sobre os desenhos que realizam com os computadores (Clements e Nastasi, 2002). As crianças são estimuladas na comunicação verbal e na colaboração umas com as outras, pois propicia situações de conflito sociocognitivo e ainda a vocalização em crianças com perturbações na fala.
a - Na linguagem escrita, os processadores de texto proporcionam oportunidade da exploração e co-construção de conhecimentos nas representações simbólicas, o desenvolvimento da literacia e “conceitos relacionados como a sequencialidade e direccionalidade da escrita” (Amarante, 2007). Os livros eletrónicos têm contribuído para um aumento das competências do vocabulário, sintaxe, reconhecimento de palavras e compreensão de estrutura narrativa. As histórias interativas ajudam no desenvolvimento da consciência fonológica, segmentos fonéticos, leitura silabada e na pronuncia quando acompanhadas de áudio. Os programas contribuem para trabalhar competências específicas e servem as necessidades reais como: escrever um recado, uma carta, uma receita, um aviso ou até mesmo uma lista de compras ou de tarefas.  As crianças sentem-se motivadas devido á instantaneidade das mensagens, e ainda se sentem estimulados para a comunicação e a descoberta da linguagem escrita.
b - No pensamento matemático o uso do computador é um grande contributo para o desenvolvimento do pensamento geométrico e espacial, conceitos de simetria, padrões, organização espacial, reconhecimento das formas, contagens, maior competência em operações de classificação e pensamento lógico. As crianças criam objetos em programas gráficos, onde interagem aumentando ou diminuindo de tamanho, mudam de lugar, podem colorir e juntam dando origem a outras formas, tomam consciência das características topológicas, constroem e interiorizam novos processos e novas ferramentas mentais (Clements e Nastasi, 2002). Os resultados de um estudo durante um ano num jardim de infância concluíram que a programação em LOGO constitui um espaço de resolução de problemas e contribui para o desenvolvimento das noções espaciais, numéricas, conhecimento metacognitivo e pensamento critico. A matemática parece ser a área que mais “lucra” com o uso dos computadores e dos videojogos e por isso constitui uma ferramenta poderosa para ultrapassar o baixo índice de aproveitamento na área da matemática nas escolas. Os aspectos a serem desenvolvidos para crianças matematicamente competentes são a comunicação, resolução de problemas e o uso da matemática para questionar, refletir e representar sobre o meio social e/ou físico.
c - Conhecimento do Mundo - Através das TIC e dos videojogos, as crianças podem adquirir uma visão mais ampla para a compreensão do mundo, pois as crianças tomam conhecimento de outras realidades, podendo pesquisar informações, “visitar” lugares, consultar enciclopédias interactivas ou simplesmente ver trabalhos de colegas de outras escolas. Permite acesso a pessoas, imagens, sons e a informações muito diversificadas que dificilmente conseguiriam de outro modo. Podem ainda transformar e produzir informação (Ponte, 2002), partilhar, representar e comunicar.  “A tecnologia oferece a exploração da vertente da comunicação interpessoal” (Amarante, 2007) pois estimulam a capacidade comunicativa através do correio eletrónico ou pelo uso da webcam de modo que compreendam que a comunicação faz parte integrante do mundo.
d – Educar para a diversidade -  as TIC ajudam para que as crianças compreendam e aceitem melhor a diversidade e desde cedo tomem consciência das diferenças sociais, raciais, religiosas, étnicas e culturais de modo a construírem ideias cívicas como cidadão para uma futura sociedade mais justa e tolerante. Os softwares que valorizam a diversidade social e cultural também dependem das atitudes e das escolhas do professor, mas o maior potencial aqui reside na internet que permite o conhecimento de outras realidades, culturas e expansão de uma visão mais ampla do mundo de modo a conhecerem, questionarem e compreenderem essa diversidade.
4.    Factores importantes na integração das TIC
Para assegurar a melhoria da qualidade de ensino e de aprendizagem não basta integrar as novas tecnologias, mas acima de tudo deve-se fazer uma integração adequada, criando ambientes ricos para promover a aprendizagem construtiva e segundo Coll (1992), as novas tecnologias devem ser colocadas ao serviço de uma construção ativa de conhecimentos para que não sejam apenas um acumular de conhecimentos mas antes, esquemas de conhecimentos que integram novas experiencias e reconstruindo-os continuamente. Jonassen et al. (2003) afirma ainda que, se deve proporcionar aprendizagens significativas estabelecendo relações das novas experiências com conhecimentos que os alunos já possuem e segundo os seus interesses, valorizando aprendizagens funcionais. Deve-se ainda considerar a importância dos contextos sociais de interacção porque a aprendizagem não se faz de forma isolada nem compartimentada, mas ocorre num processo cada vez mais eminentemente social (Coll, 1992; Crook, 1998a, 1998b).  A acessibilidade é também um factor a ter em conta numa boa integração das TIC em ambiente escolar, pois as crianças devem saber quando, como e onde está disponível, para uma interacção entre pares e para encorajar a colaboração mútua e, para tal importa criar oportunidades de tutoria entre pares e facilitar a integração de actividades na globalidade. A localização dos computadores assume um papel importante para trabalhos colaborativos, e a criação de laboratórios informáticos constitui o 1º passo para remeter o computador fora do contexto de aprendizagem. Sugere-se que se coloque duas cadeiras em frente a cada computador, pois incentiva a utilização em pares e a sua partilha (Haugland e Wright, 1997).
5.  Aplicações Educativas das TIC
Como já foi referido anteriormente, o mercado está inundado de programas muito atrativos, mas que se mostram extremamente dececionantes quando explorados e este é um ponto que se torna numa tarefa difícil para o educador, no qual deve ter algum cuidado na seleção dos programas. Os pontos principais que o educador deve ter em consideração para escolher softwares educativos e poder aplica-los sem surpresas devem contemplar alguns pontos importantes. Os programas devem encorajar a exploração e a imaginação, por isso devem ser programas abertos; devem ser amigáveis e intuitivos de fácil utilização com ícones facilmente ligados ás funções; devem ser flexíveis de modo a que responda a diversas necessidades e objectivo dando feedback e pistas guiando as crianças; devem ainda atribuir um papel activo à criança, solicitando reações, escolhas e a realização de actividades; devem ser multissensoriais, atraentes, interativos e que não se limitem a espetáculos de sons, imagens e luzes, mas antes devem ter conteúdos relevantes e orientados para a resolução de problemas com necessidades reais e do interesse das crianças; promovam e facilitem  a cooperação em vez de competitividade; facilitem a comunicação; estabeleçam relação com a vida real sem descartar a fantasia e a imaginação da criança; valorizem a diversidade e disponibilizem informações adicionais para os educadores para a resolução de eventuais problemas e informações sobre objectivo, idades, sugestões e indicações de instalação.
6.    Mediação do Educador
Por fim e não menos importante, a mediação do educador e o seu papel neste contexto deve ser sempre de apoio contínuo, dando sempre liberdade às crianças para que elas possam explorar e experimentar de forma autónoma. O educador deve estar atento ás reais necessidades das crianças principalmente quando se trata de crianças mais pequenas, dando encorajamento ao mesmo tempo que lhes dá apoio ás necessidades para evitar sentimentos de frustração (Clements e Nastasi, 2002). Com crianças mais velhas que já são mais autónomas o educador assume o papel de monitor, colocando questões em que os faça refletir sobre as ações. É importante que o educador estimule a interação produtiva para dar sentido aos momentos de acção de oportunidades de aprendizagem (Amarante, 2007). O papel do professor deve ser de mediador e orientador, promovendo a interação e cooperação das crianças e de modo a promover uma óptima qualidade da prática educativa.
7.     Formação dos Educadores
Há alguma resistência do uso das novas tecnologias nas salas de aulas ou em ambientes de aprendizagem, muito pelo facto de muitos educadores terem uma fraca ou limitada preparação e formação e não se sentirem familiarizados com as mesmas. Desta forma, importa que os educadores aprendam a usar as tecnologias de acordo com os objectivo educacionais.  Há aspectos importantes a considerar na formação dos educadores, pois para além de instrumentos que promovem experiências são também meios de comunicação e de colaboração e poderosos instrumentos para o seu desenvolvimento profissional, pois são ótimos apoios de organização de actividades, abrindo um leque de oportunidades de comunicação com especialistas on-line, com formação cooperativa tornando o espaço pedagógico mais estimulante. A formação de educadores nesta área deve desenvolver a compreensão dos professores pois estes desconhecem as possibilidades dos objetivos do uso das TIC; desenvolver a confiança de usarem as TIC e ajuda-los a ver de que modo podem adaptar o trabalho para desenvolver actividades usando as TIC; é importante que experimentem e explorem antes de ensaiarem com as crianças e devem ainda fornecer oportunidades para a troca de ideias e partilha de boas práticas.
8.     Considerações Finais
As investigações apontaram resultados visíveis e bem favoráveis à utilização das novas tecnologias no ensino. Os benefícios educacionais quer de natureza de programas, quer de acesso à informação e á comunicação disponível através da internet é cada vez mais marcante na nossa sociedade e nas nossas actividades do dia a dia e por isso, não se pode mais ignorar o contributo das mesmas. Constatou-se grandes ganhos no desenvolvimento da linguagem nas crianças, nomeadamente nas competências verbais, linguagem escrita e uma aprendizagem mais global na leitura e literacia; uma das áreas que se constatou mais favorável foi na matemática, em que os videojogos ganham grande destaque. Constatou-se ainda as vantagens do conhecimento do mundo, que as crianças têm oportunidade usando as TIC com a possibilidade de pesquisa de informação através da internet bem como, a transformação e a produção de informações novas e a promoção da comunicação interpessoal e a colaboração entre pares.  Melhorar a qualidade do ensino e da educação é desejável por todos os intervenientes e passa por tirar partido das novas tecnologias e colocá-las ao serviço dos projetos educativos e que sobretudo, se aprenda a aprender (Amarante, 2007) e por isso é importante fazer dos momentos de aprendizagem, momentos agradáveis e motivadores que conduzam a uma aprendizagem significativa. “Tal como todos os “materiais” também as novas tecnologias e os seus contributos dependem […] largamente da atitude e das escolhas do educador” do educador”, Amarante, Lúcia (2007). A solução de uma aprendizagem melhor e mais rica não está apenas nas novas tecnologias, “mas sim nas pessoas e nas instituições” e para tal “é necessário um esforço de todos” que “têm responsabilidade na construção da escola que queremos desde [] políticos, professores, instituições e educadores”. Há que aproveitar as novas tecnologias “como catalisadores” da mudança que tem ocorrido no mundo com tantos avanços, “tendo em vista uma escola de construção de saberes e de formação de cidades capazes [] aos novos desafios” (Amarante, 2007). Infelizmente em Portugal este tipo de investigação ainda é muito escassa e por isso haver ainda tanta resistência ao uso das TIC e nomeadamente dos videojogos no ensino e na educação o que leva pais e educadores e até mesmo escolas a terem uma atitude muito cética.
9.    Referência Bibliográficas
·         Amante, L. (2007). As TIC na Escola e no Jardim de Infância: motivos e factores para a sua integração. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 03, pp. 51-64. Disponível em http://sisifo.fpce.ul.pt e facultado na UC de Jogos e aprendizagem da Faculdade Aberta;
·         Barros, C., & Oliveira, I. (2010). Videojogos e aprendizagens matemáticas na educação pré-escolar: um estudo de caso. Educação, formação e tecnologias, 3 (2), 95-113, disponibilizado pela UC de Jogos e aprendizagem pela Universidade Aberta.

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