RESUMO
O seguinte artigo pretende clarificar e
desmitificar o tema das novas tecnologias nomeadamente os videojogos na
Educação e no Ensino. O assunto apesar de muitas vezes controverso, requer um
entendimento apurado das vantagens das TIC e dos videojogos na aprendizagem das
crianças. Os videojogos, segundo diversos estudos já realizados, têm-se
mostrado ser um enorme aliado na aprendizagem das crianças e jovens tornando-se
crucial para o novo mundo tecnológico, pois estes “contribuem para estimular o
desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças” e jovens e que
“contribuem efetivamente para o desenvolvimento psicológico” (Piaget,1962;
Erickson, 1963; Vigotsky, 1977). Mas também requerem alguma monotorização por
parte dos educadores, pois as ofertas do mercado são atrativas e imensas que
podem revelar-se muito dececionantes quando explorados. Importa compreender as
vantagens dos videojogos no desenvolvimento, mas também saber fazer escolhas
adequadas a cada situação e idades, bem como saber como, onde e quando
integrá-las e o principal papel de cada participante e interveniente deve
desempenhar.
ABSTRACT
The following article aims to clarify and demystify the
theme of recent technologies, namely video games in Education and Teaching. The
subject, though often controversial, requires an accurate understanding of the
advantages of ICT and video games in children's learning. According to several
studies, videogames have proved to be a great ally in the learning of children
and young people, becoming crucial to the new technological world, since they
"contribute to stimulate children's cognitive, social and emotional
development" and young people and who "effectively contribute to
psychological development" (Piaget, 1962, Erickson, 1963 and Vygotsky,
1977). But they also require some monitoring by educators because the market
offers are attractive and immense that can prove to be very disappointing when
exploited. It is important to understand the advantages of video games in
development, but also to know how to make appropriate choices in each situation
and age, as well as to know how, where and when to integrate them, and the key
role of each participant and actor must play.
Key words: ICT, Video
Games; Development; Learning
1.
INTRODUÇÃO
Segundo Amarante, 2003; Naeyc,1996 e Ramos et al. 2001, é difícil ignorar o
contributo das novas tecnologias e dos novos media, no enriquecimento em
contexto de aprendizagem, mesmo com tanta controvérsia que rodeiam este
assunto. É importante explorar o potencial das TIC na criação de ambientes de
aprendizagem mais enriquecedores e perceber os motivos e os factores de
integração das novas tecnologias em diversos domínios. Os estudos demonstram e comprovam que as novas
tecnologias e os videojogos têm um enorme contributo no desenvolvimento das
crianças e dos jovens, nomeadamente na linguagem e literacia, bem como nas
competências verbais, na escrita, no pensamento matemático, no conhecimento do
mundo e na educação para as diversidades. Melhorar a qualidade de ensino é um
objectivo desejável e ambicioso e para tal, é necessário saber tirar partido
das novas tecnologias e “coloca-las ao serviço dos projetos educativos
renovados em que para além do que se aprende, se aprende a aprender” (Amante,
2007).
2. As
TIC na aprendizagem
O mundo evoluiu e a sociedade também mudou.
Ocorreu profundas transformações. Assistimos nas últimas décadas a uma enorme
evolução em várias áreas nomeadamente nas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação),
no qual o mundo se foi desenvolvendo e adaptando ás mesmas. Houve uma profunda
e irreversível mudança nas nossas actividades, relações sociais e no próprio
conceito de literacia (Castell, 2002). Muitos defendem as mais valias destas
novas tecnologias e das ferramentas a ela associadas, mas outros ainda
persistem a um ceticismo no qual defendem que a sociedade é vitima e dependente
das mesmas levando a um consumo desenfreado e sem rumo. Mas é certo que já não
conseguimos viver sem as novas tecnologias que muito os têm facilitado a vários
níveis, mas é importante saber como utilizá-las e tirar o melhor partido das
mesmas. Na educação estas têm-se
mostrado de extrema importância, quer para crianças da idade pré-escolar que
para crianças maiores já que exercem uma grande atração. Desta forma e
baseando-nos em algumas investigações e análises feitas em estudos de casos, é importante
fundamentar e justificar a integração das TIC no conceito escolar e de que modo
este fascínio que as crianças sentem pelas novas tecnologias pode ser
aproveitado para a promoção da aprendizagem e perceber como as crianças
aprendem com elas.
3. Principais
contributos no desenvolvimento defendidos sobre as TIC
As investigações fundamentam e
justificam o uso das TIC em contexto escolar e pré-escolar pois, enriquecem a
aprendizagem das crianças nomeadamente no desenvolvimento da linguagem e da
literacia e a nível das competências verbais, as tecnologias não inibem o
desenvolvimento da linguagem, pelo contrário, tanto os computadores como os
jogos encorajam a produção de discursos mais complexos e mais fluentes
(Davidson e Wright, 1991). As crianças quando usam os computadores e os
videojogos são estimuladas a usar a linguagem e principalmente quando usam
programas abertos que encorajam a exploração e a fantasia nos quais as crianças
fazem relatos. Ainda no que se refere á linguagem, as crianças contam histórias
mais elaboradas sobre os desenhos que realizam com os computadores (Clements e
Nastasi, 2002). As crianças são estimuladas na comunicação verbal e na
colaboração umas com as outras, pois propicia situações de conflito
sociocognitivo e ainda a vocalização em crianças com perturbações na fala.
a - Na linguagem escrita, os
processadores de texto proporcionam oportunidade da exploração e co-construção
de conhecimentos nas representações simbólicas, o desenvolvimento da literacia
e “conceitos relacionados como a sequencialidade e direccionalidade da escrita”
(Amarante, 2007). Os livros eletrónicos têm contribuído para um aumento das
competências do vocabulário, sintaxe, reconhecimento de palavras e compreensão
de estrutura narrativa. As histórias interativas ajudam no desenvolvimento da
consciência fonológica, segmentos fonéticos, leitura silabada e na pronuncia
quando acompanhadas de áudio. Os programas contribuem para trabalhar competências
específicas e servem as necessidades reais como: escrever um recado, uma carta,
uma receita, um aviso ou até mesmo uma lista de compras ou de tarefas. As crianças sentem-se motivadas devido á
instantaneidade das mensagens, e ainda se sentem estimulados para a comunicação
e a descoberta da linguagem escrita.
b - No pensamento matemático o
uso do computador é um grande contributo para o desenvolvimento do pensamento
geométrico e espacial, conceitos de simetria, padrões, organização espacial, reconhecimento
das formas, contagens, maior competência em operações de classificação e
pensamento lógico. As crianças criam objetos em programas gráficos, onde
interagem aumentando ou diminuindo de tamanho, mudam de lugar, podem colorir e
juntam dando origem a outras formas, tomam consciência das características
topológicas, constroem e interiorizam novos processos e novas ferramentas
mentais (Clements e Nastasi, 2002). Os resultados de um estudo durante um ano
num jardim de infância concluíram que a programação em LOGO constitui um espaço
de resolução de problemas e contribui para o desenvolvimento das noções
espaciais, numéricas, conhecimento metacognitivo e pensamento critico. A
matemática parece ser a área que mais “lucra” com o uso dos computadores e dos
videojogos e por isso constitui uma ferramenta poderosa para ultrapassar o
baixo índice de aproveitamento na área da matemática nas escolas. Os aspectos a
serem desenvolvidos para crianças matematicamente competentes são a
comunicação, resolução de problemas e o uso da matemática para questionar,
refletir e representar sobre o meio social e/ou físico.
c - Conhecimento do Mundo -
Através das TIC e dos videojogos, as crianças podem adquirir uma visão mais
ampla para a compreensão do mundo, pois as crianças tomam conhecimento de
outras realidades, podendo pesquisar informações, “visitar” lugares, consultar
enciclopédias interactivas ou simplesmente ver trabalhos de colegas de outras
escolas. Permite acesso a pessoas, imagens, sons e a informações muito
diversificadas que dificilmente conseguiriam de outro modo. Podem ainda
transformar e produzir informação (Ponte, 2002), partilhar, representar e
comunicar. “A tecnologia oferece a
exploração da vertente da comunicação interpessoal” (Amarante, 2007) pois estimulam
a capacidade comunicativa através do correio eletrónico ou pelo uso da webcam
de modo que compreendam que a comunicação faz parte integrante do mundo.
d – Educar para a diversidade - as TIC ajudam para que as crianças compreendam
e aceitem melhor a diversidade e desde cedo tomem consciência das diferenças
sociais, raciais, religiosas, étnicas e culturais de modo a construírem ideias
cívicas como cidadão para uma futura sociedade mais justa e tolerante. Os
softwares que valorizam a diversidade social e cultural também dependem das
atitudes e das escolhas do professor, mas o maior potencial aqui reside na
internet que permite o conhecimento de outras realidades, culturas e expansão
de uma visão mais ampla do mundo de modo a conhecerem, questionarem e
compreenderem essa diversidade.
4. Factores
importantes na integração das TIC
Para assegurar a melhoria da qualidade
de ensino e de aprendizagem não basta integrar as novas tecnologias, mas acima
de tudo deve-se fazer uma integração adequada, criando ambientes ricos para
promover a aprendizagem construtiva e segundo Coll (1992), as novas tecnologias
devem ser colocadas ao serviço de uma construção ativa de conhecimentos para
que não sejam apenas um acumular de conhecimentos mas antes, esquemas de
conhecimentos que integram novas experiencias e reconstruindo-os continuamente.
Jonassen et al. (2003) afirma ainda
que, se deve proporcionar aprendizagens significativas estabelecendo relações
das novas experiências com conhecimentos que os alunos já possuem e segundo os
seus interesses, valorizando aprendizagens funcionais. Deve-se ainda considerar
a importância dos contextos sociais de interacção porque a aprendizagem não se
faz de forma isolada nem compartimentada, mas ocorre num processo cada vez mais
eminentemente social (Coll, 1992; Crook, 1998a, 1998b). A acessibilidade é também um factor a ter em
conta numa boa integração das TIC em ambiente escolar, pois as crianças devem
saber quando, como e onde está disponível, para uma interacção entre pares e para
encorajar a colaboração mútua e, para tal importa criar oportunidades de
tutoria entre pares e facilitar a integração de actividades na globalidade. A
localização dos computadores assume um papel importante para trabalhos colaborativos,
e a criação de laboratórios informáticos constitui o 1º passo para remeter o
computador fora do contexto de aprendizagem. Sugere-se que se coloque duas
cadeiras em frente a cada computador, pois incentiva a utilização em pares e a
sua partilha (Haugland e Wright, 1997).
5. Aplicações
Educativas das TIC
Como já foi referido anteriormente, o
mercado está inundado de programas muito atrativos, mas que se mostram
extremamente dececionantes quando explorados e este é um ponto que se torna
numa tarefa difícil para o educador, no qual deve ter algum cuidado na seleção
dos programas. Os pontos principais que o educador deve ter em consideração
para escolher softwares educativos e poder aplica-los sem surpresas devem
contemplar alguns pontos importantes. Os programas devem encorajar a exploração
e a imaginação, por isso devem ser programas abertos; devem ser amigáveis e
intuitivos de fácil utilização com ícones facilmente ligados ás funções; devem
ser flexíveis de modo a que responda a diversas necessidades e objectivo dando
feedback e pistas guiando as crianças; devem ainda atribuir um papel activo à
criança, solicitando reações, escolhas e a realização de actividades; devem ser
multissensoriais, atraentes, interativos e que não se limitem a espetáculos de
sons, imagens e luzes, mas antes devem ter conteúdos relevantes e orientados
para a resolução de problemas com necessidades reais e do interesse das
crianças; promovam e facilitem a
cooperação em vez de competitividade; facilitem a comunicação; estabeleçam
relação com a vida real sem descartar a fantasia e a imaginação da criança;
valorizem a diversidade e disponibilizem informações adicionais para os
educadores para a resolução de eventuais problemas e informações sobre
objectivo, idades, sugestões e indicações de instalação.
6. Mediação
do Educador
Por fim e não menos importante, a
mediação do educador e o seu papel neste contexto deve ser sempre de apoio contínuo,
dando sempre liberdade às crianças para que elas possam explorar e experimentar
de forma autónoma. O educador deve estar atento ás reais necessidades das
crianças principalmente quando se trata de crianças mais pequenas, dando
encorajamento ao mesmo tempo que lhes dá apoio ás necessidades para evitar
sentimentos de frustração (Clements e Nastasi, 2002). Com crianças mais velhas
que já são mais autónomas o educador assume o papel de monitor, colocando
questões em que os faça refletir sobre as ações. É importante que o educador
estimule a interação produtiva para dar sentido aos momentos de acção de
oportunidades de aprendizagem (Amarante, 2007). O papel do professor deve ser
de mediador e orientador, promovendo a interação e cooperação das crianças e de
modo a promover uma óptima qualidade da prática educativa.
7. Formação
dos Educadores
Há alguma resistência do uso das novas
tecnologias nas salas de aulas ou em ambientes de aprendizagem, muito pelo
facto de muitos educadores terem uma fraca ou limitada preparação e formação e
não se sentirem familiarizados com as mesmas. Desta forma, importa que os
educadores aprendam a usar as tecnologias de acordo com os objectivo
educacionais. Há aspectos importantes a
considerar na formação dos educadores, pois para além de instrumentos que
promovem experiências são também meios de comunicação e de colaboração e
poderosos instrumentos para o seu desenvolvimento profissional, pois são ótimos
apoios de organização de actividades, abrindo um leque de oportunidades de comunicação
com especialistas on-line, com formação cooperativa tornando o espaço
pedagógico mais estimulante. A formação de educadores nesta área deve
desenvolver a compreensão dos professores pois estes desconhecem as
possibilidades dos objetivos do uso das TIC; desenvolver a confiança de usarem
as TIC e ajuda-los a ver de que modo podem adaptar o trabalho para desenvolver
actividades usando as TIC; é importante que experimentem e explorem antes de
ensaiarem com as crianças e devem ainda fornecer oportunidades para a troca de
ideias e partilha de boas práticas.
8. Considerações
Finais
As investigações apontaram resultados visíveis
e bem favoráveis à utilização das novas tecnologias no ensino. Os benefícios
educacionais quer de natureza de programas, quer de acesso à informação e á
comunicação disponível através da internet é cada vez mais marcante na nossa
sociedade e nas nossas actividades do dia a dia e por isso, não se pode mais
ignorar o contributo das mesmas. Constatou-se grandes ganhos no desenvolvimento
da linguagem nas crianças, nomeadamente nas competências verbais, linguagem
escrita e uma aprendizagem mais global na leitura e literacia; uma das áreas
que se constatou mais favorável foi na matemática, em que os videojogos ganham
grande destaque. Constatou-se ainda as vantagens do conhecimento do mundo, que
as crianças têm oportunidade usando as TIC com a possibilidade de pesquisa de
informação através da internet bem como, a transformação e a produção de
informações novas e a promoção da comunicação interpessoal e a colaboração
entre pares. Melhorar a qualidade do
ensino e da educação é desejável por todos os intervenientes e passa por tirar
partido das novas tecnologias e colocá-las ao serviço dos projetos educativos e
que sobretudo, se aprenda a aprender (Amarante, 2007) e por isso é importante
fazer dos momentos de aprendizagem, momentos agradáveis e motivadores que
conduzam a uma aprendizagem significativa. “Tal como todos os “materiais” também
as novas tecnologias e os seus contributos dependem […] largamente da atitude e
das escolhas do educador” do educador”, Amarante, Lúcia (2007). A solução de
uma aprendizagem melhor e mais rica não está apenas nas novas tecnologias, “mas
sim nas pessoas e nas instituições” e para tal “é necessário um esforço de
todos” que “têm responsabilidade na construção da escola que queremos desde […]
políticos, professores, instituições e educadores”. Há que aproveitar as novas
tecnologias “como catalisadores” da mudança que tem ocorrido no mundo com tantos
avanços, “tendo em vista uma escola de construção de saberes e de formação de
cidades capazes […] aos novos desafios” (Amarante, 2007).
Infelizmente em Portugal este tipo de investigação ainda é muito escassa e por
isso haver ainda tanta resistência ao uso das TIC e nomeadamente dos videojogos
no ensino e na educação o que leva pais e educadores e até mesmo escolas a
terem uma atitude muito cética.
9. Referência Bibliográficas
·
Amante, L. (2007). As TIC na Escola e no Jardim de Infância: motivos e factores para a sua
integração. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 03, pp. 51-64.
Disponível em http://sisifo.fpce.ul.pt e facultado na UC de Jogos e
aprendizagem da Faculdade Aberta;
·
Barros, C., & Oliveira, I. (2010). Videojogos e aprendizagens matemáticas na
educação pré-escolar: um estudo de caso. Educação, formação e tecnologias,
3 (2), 95-113, disponibilizado pela UC de Jogos e aprendizagem pela
Universidade Aberta.
Sem comentários:
Enviar um comentário